Tremembé é o destino da maioria dos presos suspeitos de crimes de grande repercussão no pais. Lá estão o médico Roger Abdelmassih, investigado pela prática de dezenas de estupros contra clientes de sua clínica de fertilização, e o jovem Lindemberg Fernandes, preso após o sequestro e morte da namorada, Eloá Pimentel.
Anna Carolina Jatobá, a madrasta de Isabella Nardoni, e Suzane von Richthofen, condenada pela morte dos pais, vivem hoje na Penitenciária Feminina de Tremembé.
Os presídios da cidade também abrigam os irmãos Cravinhos, condenados pela morte dos pais de Suzane Richthofen, Alexandre Nardoni, pai de Isabella e Mateus da Costa Meira, que abriu fogo contra a platéia em um cinema de São Paulo.
Igor era foragido da polícia e foi condenado a 16 anos e quatro meses de prisão, em 2001, pela morte de Patrícia, que estava grávida de sete meses. O crime aconteceu em Atibaia, a 60 km de São Paulo, em 1998.
O ex-promotor foi preso por volta das 15h30 desta segunda na Rua Dentista Barreto, na Vila Carrão, na Zona Leste de São Paulo. Após denúncia anônima, a delegada foi no próprio carro, sem identificação, até o local onde estava o foragido. Segundo Adanzil Limonta, ele não reagiu à prisão, estava bastante abatido e pesando 50 kg.
Promotor Igor Ferreira da Silva em delegacia da Zona Leste nesta tarde
Foto: Adriano Machado/Futura Press
“Ele parecia estar à espera de alguém e não esboçou reação”, disse. A delegada contou que, após ele confirmar que era Igor Ferreira da Silva, ela deu voz de prisão e o único pedido que ele fez foi não ser levado em um carro da polícia. O ex-promotor foi então levado no carro particular da delegada, que era escoltado por outros carros da polícia.
À polícia o ex-promotor disse que passou o tempo todo escondido no interior do estado, mas não especificou a cidade, e negou que tivesse ido para o exterior. De acordo com o delegado Nelson Silveira Guimarães, da 5ª Seccional, Igor Ferreira da Silva se mostrou emocionalmente abalado e disse que “estava cansado” de fugir e sem dinheiro.
Conheça o caso
Uma história de amor (sem final feliz) - Ciência Criminal
Por Renato Lombardi
Era um casal quase perfeito, diziam os amigos. Bonita, 27 anos, ela esperava com ansiedade o dia de ser mãe, marcado para dali a dois meses. Seria seu primeiro filho. Ele, então com 31 anos, fã dos esportes radicais, fora um dos primeiros da turma no concurso para a carreira de delegado de polícia e, pouco tempo depois, novamente destacava-se entre os primeiros no concurso para o Ministério Público, quando optou pela carreira de promotor.
Os dois se conheceram na Faculdade de Direito. Ele, professor. Ela, aluna do quinto ano. As amigas a invejavam. Afinal, Patrícia conseguira conquistar o coração do jovem professor Igor, visto com admiração pela maioria das moças da classe. Todas se encantavam com seu estilo ao dar as aulas de Filosofia do Direito. O jeito de falar, a maneira de ensinar, a voz pausada e calma.
A história de amor, de felicidade, de tranqüilidade de um casal invejado começou a mudar na madrugada de 4 de junho de 1998, quando Patrícia foi assassinada a tiros de calibre 380. Na ocasião, Igor contou que fora assaltado. Os assaltantes tinham seqüestrado sua mulher. Levaram-na na caminhonete que ele dirigia e da qual fora retirado sob a ameaça de uma arma apontada para sua cabeça.
Pouco tempo depois o veículo foi encontrado. Dentro dele estava Patrícia. Morta com dois tiros, um deles na cabeça. E a história de assalto seguido de seqüestro e assassinato da bacharela Patrícia Aggio Longo, contada então pelo promotor Igor Ferreira da Silva, começou a ser contestada na mesma madrugada por um delegado e um promotor, amigos dele, freqüentadores da casa do casal. De vítima, o promotor passou a suspeito da morte da esposa.
Mais alguns meses de investigações, de contradições e da confirmação de provas e Igor passou a ser acusado do assassinato da mulher. As provas da perícia, segundo o Ministério Público, foram fundamentais para a condenação do promotor: 16 anos e quatro meses de reclusão em regime fechado. O motivo: ele teria descoberto que o filho por nascer não era dele. A informação vinha de um exame de DNA elaborado pela perícia técnica da Polícia Civil de São Paulo, contestado mais tarde pela família do casal.
Os cartuchos, o paletó
Igor sempre negou o crime. Trocou de advogados no decorrer do processo. O último deles é hoje ministro da Justiça. Além de sua família - pais e irmãos, todos advogados que atuam na área criminal -, os pais de Patrícia também acreditam em sua inocência. Mas as provas foram a base para a condenação, por unanimidade. A última delas: nos fundos da casa dele, a polícia encontrou cartuchos de balas para pistola de calibre 380 - iguais aos dois cartuchos achados na cabine da caminhonete em que Patrícia foi morta.
O laudo da perícia foi conclusivo: os cartuchos tinham sido utilizados pela mesma arma. "Os picotes [marcas do gatilho] nos cartuchos recolhidos na caminhonete são idênticos aos apreendidos nos fundos da casa do promotor", afirmou o delegado Wagner Giudice, do Departamento de Homicídios, que participou de toda a investigação.
O promotor confirmou que dera tiros nos fundos de sua casa, onde treinava tiro ao alvo, com uma arma calibre 380. Alegou que a pistola fora vendida pelo pai, Henrique, que não tinha o recibo da venda. Nem ele, nem o pai lembravam o nome do comprador. "É impossível uma pessoa vender uma arma e esquecer para quem vendeu", contestou a promotora Valderez Abbud, que trabalhou na acusação.
Igualmente inexplicável e comprometedora era a troca do paletó. O que Igor entregou à polícia não era o mesmo paletó que usava no momento em que, segundo disse, foi atacado pelo ladrão que fugiu com sua mulher e a caminhonete. E mais: o paletó foi entregue à polícia no dia seguinte, no velório de Patrícia, depois de lavado e passado.
Pesou fortemente contra o promotor Igor, por último, a tentativa de um dos irmãos de Igor de forjar um autor do crime. O escolhido foi um ladrão, que estava cumprindo condenação na Penitenciária de Guarulhos, por estupro. A mulher do ladrão contou "toda a farsa" e o depoimento dela foi decisivo para fechar as dúvidas das investigações.
Na madrugada da morte de Patrícia, a polícia fez o exame residuográfico nas mãos de Igor. Não encontrou resíduos de pólvora. Um experiente perito da Polícia Civil disse que, pela vivência do promotor em casos criminais, ele sabia como se livrar dessa prova: "Deve ter lavado as mãos com algum produto que eliminou o chumbo. Um desses produtos poderia ser um simples vinagre de cozinha. Existem determinados materiais químicos que eliminam os resíduos das mãos de quem dispara uma arma, mas um criminoso comum não sabe destes detalhes", explicou o delegado Giudice.
Pela sua condição de promotor, Igor foi julgado pelos 22 desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo. O tribunal funciona num prédio imponente, de corredores largos, piso de mármore, na Praça Clovis Bevilacqua, no centro de São Paulo, um dos mais bonitos projetos de Ramos de Azevedo, o mais importante engenheiro e arquiteto paulista da primeira metade do século XX.
O promotor Igor não esteve presente ao julgamento, iniciado na manhã de 18 de abril de 2001. Mas estava perto dali, no quarto de um hotel no bairro da Liberdade. Por telefone, o pai e os irmãos o informavam do andamento. Seu advogado, o experiente e respeitado Márcio Thomaz Bastos, prometera que o apresentaria, em caso de condenação.
No final da noite, foi anunciada a sentença: por 22 votos a zero, o Tribunal de Justiça decidiu pela culpa do réu. O jovem promotor de carreira promissora no Ministério Público estava condenado a passar os próximos 16 anos e quatro meses na cadeia. Mas Igor não se apresentou, como seu advogado prometera. Desapareceu antes que a polícia pudesse encontrá-lo. Até hoje continua desaparecido.
Um passado sem mácula
Patrícia Aggio Longo estava grávida de sete meses. Ela e Igor tinham se casado em 1997, após três anos de namoro. Antes do casamento já moravam juntos numa casa ampla, cercada de muito verde, num condomínio de luxo na cidade de Atibaia, a menos de 70 quilômetros de São Paulo.
Igor trabalhava no Fórum Criminal da zona leste da capital. Na tarde de 4 de junho, Patrícia foi para a casa de sua mãe, na zona norte, onde ficou a espera do marido. Depois do trabalho, Igor teve uma reunião numa loja maçônica. Chegou por volta das 10 da noite à casa da sogra, para pegar Patrícia.
O casal seguiu para Atibaia pela rodovia Fernão Dias. O promotor contou que, para "encurtar" o caminho e evitar o trânsito do centro da cidade, ele tinha o hábito de passar por um condomínio, o Shangri-lá. Quando a caminhonete cruzava o portal do condomínio, um homem fez sinal para que parasse. Ele parou. Achou que poderia ser o porteiro e que deveria se identificar. Mas não era um funcionário do condomínio. "Era um homem armado. Mandou que eu saísse e levou o carro e minha mulher, seguido por um outro homem, que estava numa moto", afirmou o promotor a dois policiais rodoviários federais, naquela madrugada, e reiterou posteriormente, em diversos interrogatórios à polícia e ao Ministério Público.
Ele disse que, ao ver a mulher ser levada, correu por dois quilômetros e meio em busca de patrulheiros federais, na Fernão Dias. Diz ter pedido, também, ajuda a motoristas. O certo é que Igor foi levado para o posto policial e os militares saíram a procura da caminhonete, dos ladrões e de Patrícia. Encontraram o veículo do outro lado do condomínio, com os faróis ligados. Dentro da caminhonete, com a cabeça encostada junto à janela do passageiro, estava Patrícia, morta com um tiro na cabeça. O vidro da porta do veículo apresentava um furo. Assim que a porta foi aberta, o vidro estilhaçou, virando centenas de pedaços. A janela da porta do motorista estava abaixada.
O bebê que Patrícia carregava no ventre também morreu. Após os meses de apuração e de coleta de provas, a polícia concluiu que Igor teria assassinado a mulher ao saber, pela própria Patrícia, que o filho não era seu, o que foi comprovado por um exame de DNA. A partir da comprovação de que o promotor não era o pai, a Justiça decretou a prisão preventiva. Preso, Igor foi mandado para o Regimento de Cavalaria da Polícia Militar, pois promotores pertencem à categoria dos que têm direito a prisão especial.
Ali ficou por 43 dias, até o advogado Márcio Thomaz Bastos conseguir a revogação da prisão. O promotor passou a aguardar o julgamento em liberdade. Bastos mandou realizar outros dois exames de DNA, num laboratório de Porto Alegre, e o resultado da paternidade foi negativo. Contrário ao da perícia paulista.
Apesar do conflito dos laudos e dos argumentos da defesa de que Igor era o pai da criança, ele foi condenado. No entender dos desembargadores que julgaram o promotor, os exames periciais do processo eram provas irrefutáveis. Apesar de a defesa recorrer a instâncias superiores da Justiça, a sentença foi confirmada, não cabendo mais recursos. Igor passou a ser procurado por policiais civis, militares e federais.
Desde o dia da condenação, várias pessoas afirmaram tê-lo visto no bairro de Santana, em visita aos pais. Chegaram a vê-lo também em Santa Catarina, onde um irmão morou. E no Chile. Mas, de concreto, a polícia jamais soube do paradeiro do promotor.
"Andei atrás dele por mais de três anos e não cheguei a nada", afirma o delegado Fernando Vilhena, que foi diretor da Divisão de Capturas da Polícia Civil durante quatro anos e está aposentado desde dezembro de 2005. Vilhena soube que Igor, depois da condenação, não voltou mais para a casa dos pais. Também não foi visto na casa dos ex-sogros, que moravam na capital e mudaram para o interior.
"Se ele não aparecer em lugar público e não fizer contato com a família, amigos, vai ser difícil prendê-lo", acredita Vilhena, que passou os últimos 40 anos na polícia e esclareceu centenas de assassinatos, roubos. Para ele, por ter sido delegado de polícia e promotor, Igor sabe muito bem como se manter na clandestinidade.
Um caso e suas contradições
Durante os meses das investigações, os policiais montaram um dossiê com contradições do caso. Cinco delas:
1 Por que Igor preferiu pegar uma estrada mais longa, pouco usada por quem vai para Atibaia, uma estrada em mau estado de conservação, deserta, onde havia pouco movimento? Por que não usou o caminho melhor, mais curto, movimentado e asfaltado? Em seus depoimentos, disse que era para chegar mais rápido em casa, para fugir do trânsito do centro.
2 O paletó entregue pelo promotor no dia seguinte, durante o velório, não foi o mesmo da noite da morte de Patrícia. Igor repetiu diversas vezes que aquele paletó era o que usava na noite do crime. Contou que na madrugada da morte de Patrícia, após o encontro do corpo e da notícia da morte dela e do bebê, ele foi levado para sua casa para tomar banho. E quando pediram, ele entregou o paletó.
3 Nos fundos da casa de Igor foram apreendidos 43 cartuchos de pistola calibre 380, iguais aos dois que estavam na cabine da caminhonete onde Patrícia foi assassinada. E com a mesma marca do gatilho da arma. O promotor afirmou que tinha uma arma daquele calibre. O pai vendera a arma, mas nenhum dos dois tinha um recibo, nem se lembravam do nome do comprador.
(Caramba, venderam pro sequestrador?)
4 O vigia do condomínio disse à polícia que a caminhonete do promotor entrou pela estrada de terra e, 15 minutos depois, viu sair, na direção contrária, um homem vestindo roupas sociais. Ao prestar declarações à polícia, o vigia não afirmou que o homem era Igor. Estava escuro e não pôde ver o rosto.
5 O tiro com a arma de calibre 380 foi disparado, segundo os peritos, a uma distância entre 5 e 20 centímetros da cabeça da vítima. O autor do disparo estava muito próximo, portanto. Igor disse que não lembrava do rosto do homem que levou sua mulher. Mencionou apenas que o da moto era parecido com o jogador Romário: baixinho e moreno.(Sei...)
A pergunta que ficou sem resposta
Se houve um assalto, por que não roubaram nada de Patrícia? A bolsa dela estava na caminhonete com todos os objetos.
A polícia investigou a hipótese de vingança e não encontrou nada que a justificasse.
O único motivo encontrado foi aquele que orientou toda a acusação: ao saber que não era o pai da criança que iria nascer, Igor decidiu pela morte de Patrícia e simulou um seqüestro seguido de morte.
Quem escreveu o livro?
O pai de Igor, Henrique Caire Martel, publicou em 2003 o livro intitulado Alegações Finais, O Caso do Promotor de Atibaia. O livro faz um relato de todo o processo. Contesta o trabalho da polícia, da perícia, do Ministério Público e da Justiça.
Termina afirmando: "O réu encontra-se na clandestinidade, na esperança de que, um dia, as suas súplicas sejam ouvidas e que tenha a oportunidade de se ver julgar pelo Tribunal Popular do Júri, como qualquer brasileiro, em casos semelhantes, abdicando do falso privilégio de ser julgado pelo Tribunal de Exceção, como ocorreu."
Pessoas que conhecem os Ferreira da Silva sustentam que o livro foi escrito pelo próprio promotor Igor.
---Publicado por Ciência Criminal, edição nº 2 (http://cienciacriminal.uol.com.br/textos.asp?codigo=110)
Eu também tenho uma pergunta: Se o filho não era do Igor, era de quem? Quem era o amante dela? Ninguém investigou isso?
Hi everyone! I do not know where to begin but hope this place will be useful for me.
ResponderExcluirIn first steps it's really nice if somebody supports you, so hope to meet friendly and helpful people here. Let me know if I can help you.
Thanks and good luck everyone! ;)
hellopeople this is a great forum hope im welcome :)
ResponderExcluir